69ª Assembleia Geral da ONU – O forte pronunciamento de Abbas

Acompanhe o restante da cobertura da 69ª Assembleia Geral da ONU.
Caros leitores, como dito no primeiro post de hoje, Mahmoud Abbas falou hoje no Debate da Assembleia Geral da ONU. E como falou. Um discurso emocional, incisivo, firme, com declarações fortes contra o governo de Israel. Um discurso que pode gerar reações de desaprovação, raiva, tristeza, pena, revolta. E com uma conclusão inadiável e explícita: “Existe uma ocupação que precisa terminar agora. Existe um povo que precisa ser liberto imediatamente. A hora da independência do Estado da Palestina chegou”.
Transcreverei a abertura também, igualmente forte, para que o leitor não pense que o exagero ou o carregar das tintas está no blog. “Neste ano, proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas como o Ano Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino, Israel escolheu fazer um ano com uma nova guerra de genocídio perpetrado contra o povo palestino”.
Resumirei a argumentação de Abbas, com aspas quando for uma citação direta dos termos usados pelo líder palestino. Abbas evocou por diversas vezes o conceito de Nabka, que significa “catástrofe” e refere-se aos diversos êxodos palestinos. Para ele, uma nova Nabka está sendo forçada pela “potência ocupante”, “destruindo as esperanças remanescentes de paz” e uma continuação da Nabka de 2012. Após os diversos avisos de Abbas, “aqui estamos de novo”.
O “estado racista ocupante” está cometendo genocídio, tendo como alvo as crianças, as residências e as oliveiras. Uma “devastação sem precedente” derivada de “crimes de guerra”. Com isso, “a cultura de paz vai perdendo espaço” e fez um misto de declaração com apelo: “a vida de um palestino é tão preciosa quanto à de qualquer outro ser humano”. Abbas agradeceu o apoio internacional recebido, “nas ruas e de nações amigas”, e espera que “ninguém colabore com a impunidade”.
A ocupação “racista e colonial”, com “gangues armadas de colonos racistas”, de um governo “que não cumpre acordos” como o estabelecido em conjunto com “os grandes esforços americanos”, especialmente os de John Kerry (citado nominalmente, assim como Barack Obama), e estabelece um regime “pior que o Apartheid” causa um aumento do racismo e da intolerância, inclusive no currículo escolar; referência ao debate sobre como os palestinos são retratados em livros escolares israelenses.
“Não há credibilidade nem seriedade” no ciclo de negociações, hoje “impossível” de ser retomado, com a brutalidade da ocupação de Israel, prossegue Abbas. Israel gera extremismo, e acabar com o extremismo requer “fundações sólidas”; a ocupação da palestina é “terreno fértil” para o extremismo. Nesse trecho, Abbas citou o EI, mantendo a linha argumentativa de que, sem desenvolvimento social, o extremismo será cíclico.
Então, Abbas chega num ponto em que sua argumentação torna-se uma proposta, embasada em dois pontos. Primeiro, cobra de Israel. “É hora de essa longa tragédia acabar. Nós não aceitaremos sermos sempre os que são exigidos a provar suas boas intenções, fazendo concessões ao custo de seus direitos e permanecer em silêncio enquanto são mortos e sua terra é roubada”. Uma clara referência ao fato de Abbas ter cedido em diversos pontos nos últimos anos, frente um governo inflexível de Netanyahu.
Depois, afirma que o processo de reconstrução e de paz deve ser conduzido pela comunidade internacional; implícito que as negociações de paz com Israel são infrutíferas ou congeladas. No princípio de manter a “unidade palestina”, talvez uma referência ao acordo entre Fatah e Hamas citado aqui, mais cedo, no próximo mês o Cairo sediará um encontro internacional, organizado “com muita gratidão” pelo Egito e pela Noruega, para a reconstrução da Faixa de Gaza.
E conclui, exigindo o fim do bloqueio ao território de Gaza, “hoje, a maior prisão do mundo, para quase dois milhões de cidadãos palestinos”, a proposta de uma resolução para aprovação do Conselho de Segurança da ONU, baseada no “espírito e determinações” das resoluções já aprovadas na Assembleia Geral e adotadas pelo Conselho de Segurança, que estabelecem as fundações para uma “solução duradoura e uma paz justa”. Essa empreitada pretende corrigir a deficiência dos esforços anteriores.
Obter a paz com o objetivo de acabar com a ocupação israelense em territórios palestinos, alcançar a solução de dois estados, com o Estado da Palestina, com Jerusalém Oriental como sua capital, nas fronteiras de 1967, em conjunto com o Estado de Israel. Obter também um acordo justo que solucione “o sofrimento” dos refugiados palestinos, baseado na resolução 194, com um cronograma para a implementação desses objetivos como estipulado pela Iniciativa Árabe de Paz. O objetivo final é que “a paz prevaleça na terra das religiões monoteístas”. Resta saber se isso é do interesse de Netanyahu e do governo do Likud.
Para ler o pronunciamento, na íntegra e em inglês, o PDF está aqui. Para ler o que já foi publicado sobre a Palestina no Xadrez Verbal?
O blog volta amanhã ao meio-dia, com a cobertura do Debate da 69º Assembleia Geral da ONU.
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Para ficar informado, você pode checar a programação do debate no site da 69ª Sessão da Assembleia Geral da ONU; notícias e releases no site da Assembleia Geral da ONU; e assistir aos pronunciamentos e demais coberturas no site oficial das Nações Unidas UN Web TV.
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bla bla bla , primeiro conheça a historia , israel nunca se nego a dar terras ao palestinos , eles nunca foram donos dessas terras !!!
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