Marina Silva fez gestuais satânicos durante o último programa Roda Viva?

Caros leitores, em um dos posts sobre Marina na semana passada, um dos comentários, da Bolachinha com Ovo, perguntou se assisti o programa Roda Viva com Marina Silva. Assisti nessa noite, você pode assistir na íntegra aqui. Tenho algumas restrições ao novo formato do programa e seus participantes, mas não deixa de ser importante ouvir o entrevistado, ainda mais alguém que foi tratado aqui no blog. Caso queira assistir a entrevista na íntegra, está neste link aqui.

Marina no último programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido na noite de 21 de Outubro de 2013. Foto: Reprodução

Marina no último programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido na noite de 21 de Outubro de 2013.
Foto: Reprodução

Em um assunto paralelo, na semana passada, como muitos de vocês devem saber, teve grande repercussão um vídeo, feito por um motociclista que sofreu um assalto. Após um dos ladrões, armado, tomar sua moto, a câmera do motociclista filma um policial de folga, fardado, sair de seu carro e agir, disparando dois tiros no ladrão que estava armado e executou o roubo. O criminoso foi para o hospital, o policial receberá uma comenda e o vídeo causou certa repercussão pela internet; mas, além dos que comemoraram o fato do ladrão ter sido baleado, qualquer cidadão notou que o policial agiu de acordo com as circunstâncias, com um revólver apontado pra si.

Alguns dias depois, um blog de humor (independente de uma pessoa achar graça ou não em sua proposta) publicou um texto afirmando que a Secretária Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, teria ficado comovida com o vídeo e “defendido” o criminoso de uma “violência gratuita” do policial. Ao final do texto, um aviso sobre o texto não ser verdadeiro, uma peça de humor disfarçada de notícia, como muitos existem por ai (o blogueiro, pessoalmente, recomenda, nesse estilo, o Sensacionalista e o Piauí Herald). Qual foi o problema? Muita gente, mas gente demais, começou a compartilhar o tal texto como se verdadeiro, e na maioria dos casos carregando nos comentários contra a Secretária, com ofensas, xingamentos, etc.

A repercussão foi tanta, de uma notícia falsa, que a Secretária divulgou nota pública sobre o ocorrido, inclusive afirmando que a ação policial foi legítima. Na nota pública, Maria do Rosário declarou sua intenção de solicitar a retirada do texto. Mais críticas, de que ela estaria praticando censura, e mais piadas por parte do autor do texto original. Uma situação que, basicamente, apenas Maria do Rosário perdeu. Mas sem responsabilidade alguma. E a responsabilidade também não é do humorista, já que ele explicitou que se tratava de ficção e de brincadeira, não de notícia. Então, em que parte reside o problema?

No público, infelizmente. A internet potencializou em uma escala altíssima dois problemas de leitura que, sem dúvida, sempre existiram, mas sem essa capacidade (risco?) de repercussão. O primeiro é a busca e a identificação, no texto, de elementos que o leitor concorde previamente, em uma inversão do processo de leitura e comunicação. A pessoa não lê, absorve o que leu e conclui, e então, confronta as conclusões do texto com suas conclusões e conhecimentos prévios.

O leitor simplesmente busca por elementos que o agradem. Se ele concorda com o que leu, então, o texto é bom (e, no caso da internet, é divulgado). Se ele discorda, o texto que é ruim, ou o autor, ou é tendencioso, etc. Um leitor radical de esquerda vai condenar previamente um texto que fale em economia de mercado, independente de sua argumentação e da qualidade do texto. O contrário também é verdadeiro, e se aplica ao caso. O leitor que condena qualquer discussão de Direitos Humanos, ou vulgariza como “direitos dos manos”, previamente vai concordar com o texto falso, pois é aquilo que ele acredita, mesmo que descolado da realidade.

O segundo problema se relaciona com o primeiro, mas enquanto que o que citei anteriormente está ligado mais ao conteúdo ideológico ou perspectivas pessoais, agora menciono uma espécie de letargia do leitor. Ele simplesmente aceita o que está escrito. Não busca a informação em outra fonte, não cruza os dados do texto que leu; se “fizer sentido”, pronto, está aceito, mesmo que com erros factuais no texto. Veja, não estou falando necessariamente de coisas subjetivas, estou falando é de erros factuais mesmo, argumentos que não correspondem à realidade de forma empírica. Ou então, a letargia é demonstrada em uma leitura preguiçosa, que apenas passa os olhos pelo texto. Ou lê o título e pronto: se o título disse que Maria do Rosário se comoveu com o vídeo e defendeu o criminoso, vou compartilhar e chamá-la de “vaca” (exemplo real, tá?).

Caso tal letargia não existisse, caso o leitor tivesse se dado ao trabalho de ir pelo menos até a última linha do que se dispôs a ler, teria visto o aviso de que se trata de um texto de ficção. Esse é um dos motivos que eu costumo avisar quando escrevo um post mais longo aqui no Xadrez Verbal, para que a pessoa já saiba o que a espera. Assim como já falei de ideologias e de textos supostamente imparciais, esses dois aspectos são coisas que devem ser mantidas na cabeça sempre ao ler algo, seja na internet ou fora dela, mas, no caso das comunidades virtuais, a atenção deve ser redobrada antes de divulgar e compartilhar informação errada. Leia não para se projetar no texto, mas para ver o que o texto adiciona ao seu conhecimento e às suas perspectivas. Cruze as informações, não tome uma afirmação sem fonte ou presente em correntes, por exemplo, como verdadeira de imediato. E não tenha preguiça! Leia até o fim, não menospreze um texto bem escrito, pois mesmo totalmente falso ele pode te seduzir.

Faça isso para evitar polêmicas desnecessárias, como a citada nesse texto. Faça isso para impedir que um bom debate descambe para troca de ofensas e acusações subjetivas. Assim como no tabuleiro de xadrez, veja todas as possibilidades antes de um movimento, não mova uma peça ou adote um discurso por impulso. Faça isso por você, para evitar desgastes, para aprender e para usar uma ferramenta poderosa e sem precedentes como a internet para um intercâmbio positivo de ideias, não de polêmicas vazias ou textos estéreis.

E, falando em ler o texto até o fim, a resposta da pergunta feita no título do texto é: não, Marina não fez.

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