Assembleia Geral da ONU – Terceiro dia e Palestina
Caros leitores,
Este será o primeiro post de hoje. Espero voltar mais tarde, para falar ou da Sérvia, como prometido, ou das primeiras repercussões da abordagem da Presidenta Dilma, em seu discurso, sobre o caso de espionagem. Enquanto escrevo este texto, a programação de hoje da Assembleia Geral ainda não foi disponibilizada, então, não tenho como comentar.
O Primeiro-Ministro do Haiti fez um discurso tentando apontar alguns avanços de seu país, relembrando do terremoto de 2010, das eleições livres, citou duas vezes a MINUSTAH liderada pelo Brasil, mas, obviamente, o destaque do dia foi para Mahmoud Abbas, Presidente do Estado da Palestina.
O discurso de Abbas foi, pra mim, enigmático, especialmente em seu final. Ele, sabiamente, usou um tom agregador, moderado e conciliador. Logo no início afirma estar muito feliz por falar perante a Assembleia como um membro e que tal reconhecimento em nada “deslegitima” Israel; também afirma querer ter um acordo de paz “definitivo” em até nove meses, e que não está ali como alguém sem um mapa ou sem bússola, ou seja, está ali sabendo o que quer e aonde quer chegar. E, como símbolo maior do seu tom agregador, citou em determinado momento, na mesma frase, Jesus Cristo, Abraão e Maomé, símbolos das três religiões monoteístas de Jerusalém.
Rapidamente, condenou o uso de armas químicas na Síria e afirmou que acredita que uma intervenção militar não é a solução. Foi a única intervenção que não estava relacionada diretamente ao Estado palestino e sua relação com Israel. Abbas colocou, na maior parte do tempo, os palestinos como alvos, seja de fatores históricos, como a Al-Nakba (Abbas afirma que é “pessoalmente uma vítima”), o êxodo palestino decorrente da Guerra de Independência de Israel, seja de fatores contemporâneos, como as colônias ilegais de judeus ortodoxos em terras palestinas. Abbas cita 708 ataques e conflitos derivados dessas colônias, além de aspectos como o estado de cerco permanente da Faixa de Gaza e os checkpoints que destroem a economia palestina.
Agradeceu a União Europeia pela sua postura em boicotar tais colônias, além de lembrar os vinte anos do Acordo de Oslo. Aproveitou para dizer que acredita que a maioria da população israelense quer uma paz, um convívio entre dois Estados, e que a Palestina já se mostrou disposta a negociar, com a “difícil decisão” de aceitar as fronteiras de 1967 (reconhecidas pelo Brasil) e com a Organização da Libertação da Palestina abandonando a luta armada; aqui, deve-se apontar que ele convenientemente omitiu o Hamas, que ainda tem braços radicais engajados na luta armada. Finalmente, nesse tom conciliador, ele diz que muros dão uma “sensação temporária” de segurança, mas que a solução para a região passa pela construção de pontes, não de muros.
Agora vem a parte enigmática. Em sua parte final, Abbas diz que espera que a Assembleia colabore para uma “paz justa”, e que a atual rodada de negociações parece ser “a última chance”. Traduzo na íntegra suas últimas frases: “O tempo está se esgotando, e a janela da paz está se estreitando, as oportunidades estão diminuindo. A atual rodada de negociações parece ser a última chance de realizar uma paz justa. Apenas pensar nas consequências catastróficas e assustadoras do fracasso deve obrigar a comunidade internacional a intensificar os esforços para apoderar-se desta oportunidade. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores, a hora da liberdade para o povo palestino chegou. A hora da independência da Palestina chegou. A hora da paz chegou.”.
Um apelo? Um tom pessimista? Uma ameaça?
Acho que todas essas opções, pois elas se alternam de quinze em quinze minutos.
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Para ficar informado, você pode checar a programação do debate no site da 68ª Sessão da Assembleia Geral da ONU; notícias e releases no site da Assembleia Geral da ONU; e assistir aos pronunciamentos e demais coberturas no site oficial das Nações Unidas UN Web TV.
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Vamos dar uma de pombo enxadrista aqui. Sacanagem, trazer o pombo, pra jogar Xadrez num lugar que é sério. Mas vamos brincar com a hipótese. Então tu colocou na perspectiva da questão que o discurso do Abbas, foi “Bipolar” pois ele quer um monte de coisa, mas não mostrou como, nem quando e nem onde? E ainda fez um mimimimimimi. No final… Com tom de apelo, ameaça e pessimismo e desdém. “Pois se não for agora, a gente toca o terror” Ficou isso nas entrelinhas? Acho que ficou. Pra acabar a questão Israel e Palestina, duas coisas tem que acabar, não tão simploriamente como vou colocar. Mas é importante para ambos reconhecer, esse erro. Primeiro os pombos enxadristas tem que serem enxotados. “Arru!!, Arru!!!, Arru!!! é a mãe”. E segundo tem que parar o “mimimimimimimimimi”. Quando começarem a falar como adultos, vão progredir. Senão…. nada muda. Fica a enrolação de sempre. Bombas, retaliação. Faixa de Gaza, conflitos. E Terrorismo com retaliação.
Caro Henrique, não disse bipolar, disse enigmático. Obrigado pelo seu comentário. Um abraço
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Esse é o problema. Não se pode fazer diplomacia, jogando, e usando enigmas. Deixando pontas soltas. A coisa não vai funcionar. Vou ler os outros post e comentar, cada assunto no seu devido post. Fica mais claro para o leitor do blog. E continua postando firme e forte. Estou aqui pra dar uma força no que for preciso.
Essas coisas fazem parte da diplomacia.
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