Sobre a ameaça de tarifas contra o Brasil por Donald Trump

Este texto foi originalmente publicado como uma thread no Twitter/X e é reproduzido aqui para facilitar o acesso aos que não possuem perfil naquela rede social.

♟️ SOBRE A AMEAÇA DE TARIFAS CONTRA AO BRASIL POR TRUMP

Hoje, Donald Trump manda carta a Lula e anuncia tarifa de 50% sobre produtos brasileiros Farei alguns breves comentários. No próximo tweet vou colar um link com o texto integral da carta.

– A carta anuncia tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e supostamente entrará em vigor em 1º de agosto

– O texto integral, em português, está aqui, para quem desejar

– Em resumo, a carta apresenta três eixos de motivos para as tarifas. Assuntos domésticos brasileiros, como a inelegibilidade de Jair Bolsonaro e o STF; recíproca de tarifas brasileiras; proteção das Big Techs

– Desde segunda-feira, Trump anunciou ou retomou tarifas contra vinte países; 50% contra o Brasil é a mais alta delas

– Ou seja, anúncio não é algo direcionado exclusivamente ao Brasil, embora será tratado dessa maneira por alguns comentaristas e ativistas

– Política comercial de Trump também não é voltada apenas para países adversários ou do BRICS, já que aliados como Japão e Coreia do Sul estão nessa leva de tarifas, fora a disputa com vizinho Canadá. Falei disso na mais recente live no jornal

– Anúncio prevê tarifas no dia 1 de agosto, supostamente para tempo para “negociar”

– 90 dias atrás, Trump fez mesma coisa (vide foto), e prometeu “90 acordos em 90 dias”. Negociaram dois

– Muitas tarifas anunciadas naquela ocasião não foram implementadas, gerando meme TACO, “Trump always chickens out”, “Trump sempre pipoca”

– Ou seja, o anúncio contra o Brasil é parte da política comercial mais ampla de Trump

– Tarifas de 50% dos EUA contra o Brasil teriam profundo efeito negativo na economia brasileira, ao menos no curto prazo

– Também afetariam a inflação nos EUA, motivo para Trump adiar tarifas anteriores

– Sobre as justificativas de Trump, a que gerará mais debate é a que envolve Bolsonaro e o STF, podendo ser lidas como tentativa de interferir em eleições e temas domésticos. Interpretação similar decidiu as eleições canadenses e levou à derrota dos conservadores, que lideravam todas as pesquisas até a posse de Trump

– No cenário político brasileiro, Tarcísio e Zema, aliados de Bolsonaro, governam os estados que seriam mais afetados negativamente por essas tarifas

– Bolsonaristas tentarão vender a decisão de Trump como consequência das ações do STF ou do governo

– A questão das Big Techs é a mais importante. Trump compra brigas com Canadá e UE contra a regulamentação do setor, que o apoiou em peso (foto da posse de Trump para ilustrar)

– Ouvintes do Xadrez Verbal sabem dessa proteção pelo governo dos EUA e abordei isso na minha coluna que ainda vai ao ar no jornal, escrita ontem

– Finalmente, sobre o protecionismo brasileiro, ele é um fato, mas a relação comercial atual é superavitária para os EUA. O que o governo Trump realmente deseja é abrir não o comércio, mas setores da economia doméstica brasileira, como saúde privada, como mostra documento do Escritório de Comércio da Casa Branca de 11 de março revelado pelo jornalista Jamil Chade

– O anúncio de hoje vai causar alarmismo e debate sensacionalista e militante no Brasil, mas é parte de uma política mais ampla de Trump e representa oportunidades para o Brasil, tanto para negociar com os EUA quanto para aprofundar outras relações comerciais, como o acordo MERCOSUL – UE, já que ambos, hoje, possuem “antagonista” comum em Trump

– O trauma no curto prazo é, entretanto, possível e grave, especialmente em setores como mineração, aço, alumínio e o “agronegócio”

Espero que tenham achado o fio informativo e agradeço a confiança e audiência nessa mais de década de trabalho

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11 Comentários

  • Avatar de onlydantas

    no primeiro tarifaço o T tinha “esquecido” o Brasil com as menores tarifas. Agora ele decide olhar pro sul. Obrigado Dudu Bananinha pelo seu lobb

  • Luiz H. G. Xavier
    Avatar de Luiz H. G. Xavier

    Obrigado, Filipe, por compartilhar aqui (sem chance de eu entrar naquela rede).

  • Avatar de Marcelo Loureiro

    Não vejo a possibilidade de ocorrer no Brasil algo parecido com o que aconteceu no Canadá. Espero estar errado.

  • Avatar de Thiago

    Espero que isso seja o primeiro passo para a queda dos loucos que estão no STF.

    • Avatar de Rodrigues

      Muito mais provável isso fortalecer o atual presidente nas eleições do ano que vem.

      • Avatar de Thiago

        Duvido muito. Pode ser que a popularidade dele cresça um pouco agora, mas depois despencará com a crise. Só que o importante não é ele, um bobo da corte, e sim o STF. A tarifa-xandão deve ser o primeiro passo para derrubar os malucos que estão no STF.

      • Avatar de Thiago

        Duvido muito, crise e econômica é o trauma do brasileiro. Fora que, mesmo que a popularidade dele se eleve no começo, ainda assim é bom ter em mente que o alvo não é ele, um mero bobo da corte.

  • Avatar de Alicia Ayala

    o recado do Donald foi pro agro quando o governo assinou o memorando para ligar o Porto do Peru com Ilhéus. Bolsonaro e stf foi só cortina de fumaça

  • Avatar de Mário Jorge

    O que diria a Suprema Corte sobre essa coerção trumpista? A mais alta patente da Justiça dos EUA vai analisar a questão? Quando? Como disse Iam Bremmer, o que Trump fez é um abuso de autoridade executiva, porque não há uma situação de emergência de segurança nacional que justifique tal posição. A lei em questão, IEEPA em inglês, foi promulgada em 1977 pelo finado presidente Jimmy Carter. Por esse dispotivo legal, o presidente dos EUA está autorizado a regular e bloquear transações financeiras com outros países. Porém, seria preciso declarar estado de emergência nacional, alegando uma “ameaça incomum e extraordinária” originada fora do país. Ou seja, é uma retomada trumpista da política do Big Stick, mas sem a diplomacia da voz suave.

  • Avatar de Ammndzsz

    O que doi é ver bolsonarista aqui nos comentários.

  • Avatar de Ana Key Kapaz

    Salve salve, Filipe, Matias, Sylvia e Vivian! Como sempre, super programa com análises maravilhosas. Gostei muito do comentário de vocês sobre o fato de limpezas étnicas historicamente construirem novos templos sobre locais onde anteriormente havia um templo da religião subjugada/que sofre o genocídio. Lembrei de um Fronteiras maravilhoso de vocês sobre a Bahia, pelo qual soube que havia uma igreja em Salvador que parece uma mesquita – inclusive virada para Meca. Eu ouvi esse programa antes de ir com meu ex-namorado jordaniano e muçulmano para Salvador, e fomos lá. Ele analisou cada detalhe do prédio, inclusive as fundações, e saiu com um sorriso de orelha a orelha ao concluir que aquilo era, sim, uma mesquita. O bizarro foi que estava rolando uma missa (católica) durante a nossa visita, e nos sentimos super observados (tipo “o que esses dois perdidos estão fazendo aqui?”). Um padre veio dizer que aquela estética toda era porque um padre que construiu a “igreja” gostava muito da estética árabe do sul da Espanha (sei…). Depois que saímos, nos sentindo nada bem-vindos, uma mulher veio dizer que havia um grupo da UFBA que estava estudando as origens da “igreja”. Ela foi mais simpática e menos agressiva, mas mesmo assim, não quis muito ouvir o que a gente tinha pra dizer. Queria muito saber a história dessa “igreja” com minarete, fontes para lavar os pés antes de entrar e a frase “esta é a casa de Alá” em árabe, que eles traduziram, claro, como “esta é a casa de Deus” (e para eu explicar pro meu ex que Alá e Deus pra gente é tudo Deus? Sincretismo brasileiro não é para iniciantes…). Beijos para vocês todos!!

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