Correção e recursos da prova de História mundial do CACD 2024

Alunos e alunas, pessoas que me acompanham aqui. Sou professor de História Mundial para candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira Diplomática. Seguem alguns comentários sobre a prova de hoje, item por item, com eventuais sugestões para recursos. Lembrando que cada prova pode possuir uma ordem diferente de questões, então, por isso, faço um breve preâmbulo em cada item; confira a ordem da sua prova com cuidado para evitar sustos. 

Agradeço ao Rafael pelo envio preliminar da prova. Essa é minha correção pré-gabarito e farei eventuais complementos posteriormente.

Após o gabarito, coloco os questionamentos mais passíveis de recurso em negrito.

Lembrando que, posteriormente, você pode baixar os cadernos de prova e os gabaritos no site da banca organizadora.

Questão 50, sobre Revolução Industrial

1, item errado, já que não é possível desvincular colonialismo da Segunda Revolução Industrial, embora o item fosse mais preciso em dizer Imperialismo; algum candidato mais ousado poderia pedir anulação.

2, item correto, um copia e cola de Comunidades Imaginadas de Benedict Anderson (“intrinsicamente limitada e simultaneamente soberana”)

3, item aparentemente correto.

4, item provavelmente incorreto devido ao uso dos termos “rapidamente” e “simultaneamente”. Lembrando que abordo o uso econômico do tempo em meu curso.

Gabarito final: E C C E

Questão 51, sobre Revolução Francesa

1, A Revolução Russa, liderada por Lênin nas primeiras décadas do século XX, foi inspirada na história e no curso dos
acontecimentos da Revolução Francesa, mas não nos homens que a lideraram.

Item provavelmente errado. Como exemplo, Lênin ordenou a construção de um monumento à Robespierre em Moscou.

RECURSO: Transcrevi o item na íntegra, mantendo meus comentários iniciais. O item veio como correto, mas contradiz a admiração de Lênin, citado nominalmente no item, por vários revolucionários franceses, como Robespierre, incluindo a construção de um monumento em homenagem ao francês. Item errado ou anulável.

2, item errado e contraditório à provas anteriores, já que a plebe foi essencial para a condução da revolução.

3, item errado, já que a queda do pacto tradicional não contradiz a influência de novas ideias.

4, item errado por vários motivos, como a ausência popular e a ausência de outros grupos.

Gabarito final: C E E E; questionável a manutenção do primeiro item.

Questão 52, que cita Os Miseráveis

1, A participação feminina em premiações internacionais no alvorecer do século XX não conseguiu superar a representação das mulheres, segundo o ideário universal, como peças funcionais na família e na sociedade, a despeito de sua procura pelo reconhecimento público de seus feitos; prova disso é que, entre 1901 e 1914, quando a Fundação Prêmio Nobel começou a premiar personalidades no campo científico, apenas por quatro vezes, as mulheres, como Selma Lagerlöf, Bertha von Stunner e Marie Currie, foram agraciadas.

Item difícil e capcioso. O item está errado, já que, das três mulheres citadas, apenas Marie Curie foi laureada com um Nobel científico.

RECURSO: Transcrevi o item na íntegra, mantendo meus comentários iniciais. O item veio como correto, mas está errado, já que Bertha von Suttner foi laureada com o Nobel da Paz. Mesmo se quisermos considerar o Nobel de Literatura de Selma Lagerlöf como científico, o item ainda estaria errado. Finalmente, mostra como esse tipo de item, com especificidades de nomes ou datas, costuma ser resolvido via recurso, não sendo a cobrança inicial do examinador, algo que menciono sempre aos meus alunos e alunas. Há também o fato de que o item grafa “Marie Currie” erroneamente, e há precedente com o caso “Glover Cleveland” no CACD de 2017, também CESPE/CEBRASPE, quando a grafia correta deveria ser Grover Cleveland.

2, item errado, já que o comércio mundial cresceu muito mais após a Segunda Guerra Mundial.

3, item também capcioso, já que, embora não ocorra nenhum amplo movimento fascista ou revolução socialista nesse período, é o período do surgimento e fortalecimento dessas ideias. Muito provavelmente errado.

PROBLEMÁTICO: o item veio como correto e sua escrita ambígua permite questionar o gabarito, embora com pouco sucesso, acredito eu.

4, item errado. Sempre tomar cuidado com itens que falem em termos absolutos, como “toda essa riqueza”.

Gabarito provisório: C E C E

Gabarito final: X E C E

Questão 53, sobre Guerras Mundiais e ONU

1, item difícil. É complicado dizer que a retirada espanhola do Saara Ocidental foi de acordo com a Carta da ONU, justamente pois não houve autogoverno na situação posterior, mas um acordo entre Espanha, Marrocos e Mauritânia.

2, No período entre as duas grandes guerras mundiais, os únicos países europeus com instituições políticas adequadamente democráticas que funcionaram sem interrupção foram a Grã-Bretanha, a Finlândia, o Estado Livre Irlandês, a Suécia e a Suíça.

Falou em “únicos” e “sem interrupção”, dois termos absolutos. Item errado.

Adição posterior: Comentaram que o item é um copia e cola de Hobsbawm. Na primeira parte do capítulo 4 de Era dos Extremos, ele grafa “Em suma, os únicos países europeus com instituições políticas adequadamente democráticas que funcionaram sem interrupção durante todo o período entreguerras foram a Grã-Bretanha, a Finlândia (minimamente), o Estado Livre Irlandês, a Suécia e a Suíça.”. A prova, entretanto, suprimiu o “minimamente”. Além disso, é questionável a própria afirmação exagerada de Hobsbawm, que suprime, dentre outros, a Noruega e a Bélgica. O item deveria ser dado como errado e, caso venha como certo, como provavelmente será o caso, uma anulação é perfeitamente plausível.

RECURSO: Transcrevi o item na íntegra, mantendo meus comentários iniciais. Esse item não está correto e acredito que o melhor caminho é pedir por sua anulação, argumentando que, mesmo sendo um copia e cola de Hobsbawm, ele é um copia e cola impreciso. Além disso, mantenho o que escrevi acima, que a própria afirmação de Hobsbawm é questionável, pois suprime outros exemplos, como Noruega e Bélgica. Nesse período, inclusive, a Noruega expande a autonomia de seus territórios pelo Mar do Norte.

3, Keynes de fato fez esse alerta, mas não foi ouvido pelas autoridades francesas. Item errado.

Adição posterior: Comentaram sobre a moderação francesa que resultou nos Tratados de Locarno. Isso faz sentido, e talvez o item venha como correto. Nesse caso, entretanto, ele ainda seria passível de recurso, já que a ocupação do Ruhr pela França vai até fins de 1925, o que contradiz o recorte cronológico do item.

4, A Alemanha, após ter declarado guerra à URSS em 1941, não poderia manter uma guerra longa, pois, apesar de seus esforços, produzia bem menos aviões que seus rivais Inglaterra, URSS e Estados Unidos da América; depois da bem-sucedida ofensiva alemã contra as regiões do Cáucaso e do baixo Volga, as tropas germânicas foram detidas em Stalingrado, momento a partir do qual a derrota alemã foi apenas uma questão de tempo.

item é passível de anulação, já que História Militar não é prevista em edital, algo que sempre menciono com os alunos. Fora isso, o item está errado, já que a ofensiva alemã ao Cáucaso não foi um sucesso.

Adição posterior: Outra questão tirada ipsis literis de Hobsbawm e do Era dos Extremos. Ele grafa na segunda parte do capítulo 1: “Uma nova ofensiva alemã em 1942, após o inverno terrível, pareceu tão brilhantemente bem-sucedida como todas as outras, e levou os exércitos alemães a fundo no Cáucaso e ao vale do baixo Volga, mas não podia mais decidir a guerra.”. Além da Alemanhã não ocupar o Cáucaso e não tomar os campos de petróleo, o trecho de Hobsbawm fala em “pareceu tão”, se referindo à aparência inicial da ofensiva, não ao seu resultado. Mantenho que o item está errado.

RECURSO: Transcrevi o item na íntegra, mantendo meus comentários iniciais. Esse item não está correto e acredito que o melhor caminho é pedir por sua anulação, argumentando que , 1, História Militar não está prevista em edital, 2, o sucesso da ofensiva alemã ao Cáucaso é questionável, já que o objetivo da Operação Edelweiß alemã era a captura de Baku, o que não ocorre, 3, o baixo Volga nunca foi ocupado por alemães, nunca, 4, o próprio Hobsbawm, fonte da prova em momentos preguiçosos e literais, escreve de outra maneira.

Gabarito final: E C E C; absurdo terem mantido o quarto item.

Questão 54, sobre Guerra Fria

1, item errado e alucinógeno, ao citar o euro em Bretton Woods.

2, Assim como ocorrera com a Holanda, que, após a Segunda Guerra Mundial, viu a Indonésia lutar e conseguir sua independência, as demais potências coloniais e ex-coloniais do oeste europeu passaram a dedicar sua total atenção às questões europeias e abandonaram as antigas prioridades de manter o domínio e o controle das respectivas colônias.

Item errado, que começa citando a Holanda, vide os casos de Argélia e Portugal.

RECURSO: Transcrevi o item na íntegra, mantendo meu comentário inicial. Esse item ter sido dado como correto é absolutamente inaceitável. Os casos de Portugal em todo seu império colonial, da França na Argélia e na Indochina, e do Reino Unido na Malásia tornam esse item factualmente errado.

3, item aparentemente correto, sobre o Consenso de Washington, embora sua presença na prova também seja questionável, já que se torna uma questão contemporânea de Economia.

4, Paralelamente às consequências econômicas e políticas do colapso da URSS e da Europa Oriental, que foram mais dramáticas que as ocorridas na Europa Ocidental em fins da década de 80 do século passado, as ricas economias do capitalismo trataram a crise de forma urgente e maciça, tendo o fim da Guerra Fria sido considerado o fim de um conflito, e não o fim de uma era.

Item ambíguo, o que seria “urgente e maciça”? Pode ser dado como correto, ao se olhar para os casos da unificação alemã e para o desarmamento nuclear, mas pode ser dado como incorreto, olhando-se os casos das crises econômicas em diversos países do Leste Europeu na década de 1990. De qualquer jeito, caberá recurso.

RECURSO: Transcrevi o item na íntegra, mantendo meu comentário inicial. O item veio como incorreto, mas algum candidato pode enviar recurso solicitando a anulação por imprecisão, já que o caso da unificação alemã e a cooperação internacional para o desarmamento nuclear contradizem o item. Esse item também foi tirado ipsis literis de Era dos Extremos do Hobsbawm e ele mesmo cita o caso da unificação alemã.

Gabarito final: E C C E; absurdo terem mantido o gabarito do segundo item.

Questão 55, sobre Império Alemão

1, item errado, já que o Kaiser podia dissolver o Parlamento.

2, item errado, os estados do II Reich não tinham a mesma quantidade de assentos.

3, A escolha do Palácio de Versalhes como local da proclamação do Império Alemão foi uma forma de evitar o comprometimento da então frágil unidade alemã.

Item errado, foi como um triunfo após a guerra contra a França.

RECURSO: Transcrevi o item na íntegra, mantendo meu comentário inicial. Esse item ter dado como correto, primeiro, sequer faz sentido, já que como haveria comprometimento da “frágil unidade alemã”, se aquele unidade foi estabelecida ali? Segundo, ignora a questão importantíssima do símbolo de ser um triunfo contra a França, incluindo o fato de que, no Salão dos Espelhos, o teto celebra as conquistas alemãs de Luís XIV. Finalmente, ignora as questões logísticas, já que a sede do quartel-general dos exércitos alemães era Versalhes e era em Paris em que estavam a maior parte das lideranças alemãs naquele momento da guerra. O item está errado ou, no mínimo, deveria ser anulado.

4, item aparentemente correto, embora possa-se dizer que ele nasce como uma potência industrial.

Gabarito provisório: E E C C

Gabarito final: X E X C; acertaram em anular o terceiro item, mas foram covardes em anular o primeiro, que estava correto, com falsa polêmica.

Questão 56, sobre cultura

1, item errado, já que A Sagração da Primavera é um marco do Modernismo, não do Surrealismo.

2, item correto. E item inútil, não mede conhecimento nenhum, apenas faz o que chamo de “name dropping” com meus alunos, tentando deixar o candidato nervoso e inseguro.

3, item provavelmente correto, sobre a relação entre a aliança franco-russa e a aproximação cultural.

4, item provavelmente errado, já que peça de balé não tem diálogos.

Gabarito provisório: E C C E

Gabarito final: E E E E; além da falta de justificativa sobre alterações no gabarito, não há padrão para reversão de gabarito e anulação de item.

Questão 57, sobre colonialismo e imperialismo

1, item errado, já que a Conferência não respeitou coisa nenhuma.

2, item ambíguo e aparentemente correto, sobre Bandung, mas o uso de “Terceiro Mundo” e a falta de recorte geográfico torna o item questionável.

3, item correto, sobre a relação entre protecionismo e corrida colonial.

4, item errado, já que o Darwinismo Social justificava essas duas coisas.

Gabarito final: E C C E

Questão 58, sobre “ideologias circulantes”

1, O keynesianismo emergiu com a crise liberal que se instalou no pós-1929, tomou corpo com o new deal de Franklin Roosevelt e com outras políticas do welfare state e ganhou mais força com o empenho de reconstrução da economia europeia no pós-1945, tendo, porém, se enfraquecido com as proposições de Milton Friedman e a supremacia neoliberal das duas últimas décadas do século passado.

item provavelmente errado, já que, embora as ideias do Keynesianismo tenham o destaque apontado no item, Keynes sai “derrotado” por White em Breton Woods, em 1944.

RECURSO: Transcrevi o item na íntegra, mantendo meu comentário inicial. O item é complicado de ser dado como correto, já que, como mencionei acima, Keynes foi derrotado por White em Breton Woods, ou seja, não será questionado apenas nas últimas décadas do século XX. Mais ainda, vários economistas do New Deal não eram Keynesianos, como Henry Morgenthau.

2, item errado e alucinógeno sobre a Confederação Germânica.

3, item errado, Vichy era protofascista e ditatorial.

4, item aparentemente correto, sobre comunismo e fascismo.

Gabarito provisório: C E E C

Gabarito final: X E E C; fizeram bem em anular o item sobre Keynes

Adição sobre a proclamação alemã no Palácio de Versalhes

Pessoal, a pedido de uma candidata, achei melhor organizar os meus argumentos e algumas referências bibliográficas, incluindo algumas sugeridas aqui, sobre o item “A escolha do Palácio de Versalhes como local da proclamação do Império Alemão foi uma forma de evitar o comprometimento da então frágil unidade alemã.”

Ao meu ver esse item deveria ser dado como errado ou, no mínimo, anulado.

Primeiro, o item fala em “frágil unidade alemã”. A unidade alemã estava estabelecida ali, não era frágil. Tanto na cerimônia quanto na ordem cronológica dos fatos, com a primeira proposta de Constituição feita já no dia 1 de janeiro de 1871.

Segundo, o item ignora a questão importantíssima da proclamação ser símbolo de um triunfo contra a França, incluindo o fato de que, no Salão dos Espelhos, o teto celebra as conquistas alemãs de Luís XIV.

Finalmente, ignora as questões logísticas, já que a sede do quartel-general dos exércitos alemães era Versalhes e era em Paris em que estavam a maior parte das lideranças alemãs naquele momento da guerra. Ou seja, além do símbolo, havia a conveniência, sem relação como “evitar o comprometimento”.

Seguem alguns excertos de obras para sustentar essa argumentação.

Em Imperial Germany 1871–1918, da série The Short Oxford History of Germany, organizada por James Retallack.

Nas páginas 19-20, no capítulo Bismarckian Germany, de autoria de katharine anne lerman, grafa-se:

“In July 1870 the Franco-Prussian War broke out as a consequence of Prussian provocation and French diplomatic blunders. On 1–2 September the Prussian army, together with its south German allies, smashed the forces of the French Second Empire at Sedan. Within weeks agreement was reached to found a new German Empire (Reich), which was proclaimed from the Hall of Mirrors at the palace of Versailles outside Paris on 18 January 1871, even before the formal conclusion of the Franco-Prussian War. The army had finally overcome the obstacles to political unification and silenced the pessimistic prognostications of national liberal parliamentarians.”

Ou seja, a unidade já estava estabelecida.

Na página 177, no capítulo Political culture and democratization, de Thomas Kühne, grafa-se:

“The founding of the empire took place at Versailles, outside Germany, and was dominated by the new Kaiser and his military entourage. Hence, in the view of left-wing contemporaries and later ‘Whig’ historians, Imperial Germany appeared to be an authoritarian and militarist structure, imposed on a German population that actually deserved a better state, a better constitution, a better government.”

Ou seja, a ideia de uma unidade imposta é uma visão de uma parcela da sociedade, não uma explicação historiográfica, o que contribui para anulação.

Em A History of Modern Germany, de Dietrich Orlow, da Routlege, nas páginas 9-10 grafa-se:

“Staging the ceremony that proclaimed the founding of the German Reich in the Hall of Mirrors at the Palace of Versailles on January 18, 1871, symbolized Germany’s military triumph and France’s humiliation”

Na obra Blood and Iron: The Rise and Fall of the German Empire 1871-1918, de Katja Hoyer, na introdução, grafa-se:

“This made for a somewhat fragile and potentially short-lived bond that the Iron Chancellor had to fight hard to maintain. He had not even dared to hold the ceremony for the proclamation of the German Reich in any of the German states. Instead, it took place at the Royal Palace of Versailles, the heart of the defeated nation France. A fitting symbol for the centrality of the notions of struggle and war to the new Germany.”

Ou seja, a unidade alemã era “potencialmente” de vida curta, coisa que foi omitida do item. Além disso, caso essa seja a obra inspiradora do item, a mesmo trecho reafirma o simbolismo de Versalhes e a relação entre a guerra e a unificação da nova Alemanha.

No capítulo 1 da mesma obra, grafa-se:

“The new nation state would become effective from 1 January 1871, but a more symbolic date was needed for the official proclamation. The nearest suitable anniversary was 18 January. On that very day in 1701, Friedrich III of Brandenburg had been declared Friedrich I of Prussia, uniting divided territories into one stronger whole. The carefully crafted national narrative was compelling in the warm afterglow of victory against the arch-enemy France. The German Empire was proclaimed at the Palace of Versailles to wild jubilation all across the German lands.”

Ou seja, a unidade já existiria, e a proclamação foi uma “data simbólica” no contexto da vitória contra a “arqui-inimiga França”.

No capítulo 2 da mesma obra, grafa-se:

“The entire set-up revealed much about the nature of the newly founded German Empire. It seems an odd choice to hold the official proclamation of a new nation on foreign soil. However, Bismarck knew that any location in the German lands would have risked raising one state above the others, compromising the fragile moment of unity. The only thing that had tied the four states south of the River Main to the North German Confederation was the threat of another ‘Napoleonic’ occupation. The national jubilation that came from the glorious and swift victory over France had to be upheld. Thus even the unification ceremony itself was intended to remind the German princes why they had offered Wilhelm the Kaiser crown. The magnificent ceiling of the Hall of Mirrors, with its glorification of Louis XIV as the conqueror of German lands, provided the perfect backdrop for a ceremony that celebrated the reversal of fortunes between Germany and France. Furthermore, the proclamation was set up and portrayed as an exclusively military ceremony.”

Ou seja, o trecho endossa a visão de um “frágil momento de unidade”, mas reafirma o caráter marcial da cerimônia e a necessidade de um símbolo contra os franceses, representantes da “ameaça comum”. Novamente, argumentos pela anulação ou por item errado, já que, no mínimo, incompleto.

No mesmo capítulo, grafa-se:

“However, with all states represented in the Bundesrat, there seemed to be enough of a forum for the southern states to stay in the Reich. Serious and sustained mass secession movements have not to this day emerged at any time since Bismarck’s skilful unification. Another compromise had to be found between democracy and dynastic power. The ceremony at Versailles was intentionally set up as a show of the latter.”

Ou seja, a cerimônia seria uma demonstração de poder dinástico, o que torna até contraditória a ideia de evitar comprometer a “frágil unidade”. Foi para superar esse momento. O formulador da pergunta, como diria um dos meus professores, “leu, mas não entendeu”.

Em Bismarck and the Development of Germany, de Otto Pflanze, no capítulo 20, grafa-se:

“Continued French resistance created a host of new problems at the Prussian headquarters in Versailles.”

Ou seja, Versalhes já seria um local conveniente por ser também o quartel-general prussiano.

Na mesma obra, no capítulo 21, grafa-se:

“On December 9 the measure passed, 195 to 32. Even the progressives voted for it; in the minority were socialists, Hanoverian Guelphs, democratic liberals, and members of the Catholic faction. On the following day the necessary changes in the north German constitution were accepted, with only six socialist votes in the negative. Finally the Reichstag resolved to send a delegation to Versailles to bid William to accept the imperial crown (…. In the night of December 17 a telegram from Hohenschwangau reported that all rulers and free cities had given their consent. The next day William, flanked by princes and generals, listened to the Reichstag petition.”

Ou seja, a unidade já existiria. Não há nenhuma menção à fragilidade.

Em Bismarck, de A.J.P. Taylor, no capítulo 6, grafa-se:

“But the great cause was won. Germany became a united nation for foreign policy and for war. German power existed whatever the separate states might still claim. (…) The treaties with the south German states were concluded in November.”

Novamente, a ideia de que uma proclamação em outro lugar poderia prejudicar a “frágil unidade” é bastante questionável.

Filipe Figueiredo é professor de História, fundador do site Xadrez Verbal e de seus podcasts, integrante do canal Nerdologia e colunista do jornal O Estado de S. Paulo, além de ter passado por outros veículos.

11 Comentários

  • Avatar de CarlosRSJ

    Professor, os tipos de prova são determinados pela frase contida no caderno de questões, poderias, por favor, nos informar qual a frase do caderno de provas consultado?

  • Avatar de Yuji Antunes

    Fazer o CACD não é o mesmo sem seus comentários no Twitter 😦

    Soltei um berro quando vi seu ponto sobre a questão da Curie porque marquei errado.
    mesma coisa com a questão da ofensiva alemã que coloquei como certo. Ambas depois de muito ficar indo e voltando

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  • Avatar de gan

    Não dá pra saber de qual caderno é 😦
    Cada caderno tem questões numa ordem diferente

  • Avatar de Barbara Pfluck

    dá pra identificar qual item é pelos comentários, pessoal. Um pouquinho de esforço aí.

    Prof, sobre a 52, item 2, foi um copia e cola do Hobsbawm. Bem preguiçoso, mas tá lá na Era dos Extremos… vamos ver se a banca sustentará um C

    Na sobre Bandung ele fala “nascente” 3º Mundo né, acho que ameniza o termo, que se consolidava.

  • Avatar de Alcenor Reis

    Na 58.2, não podemos pensar em keynesianismo na aplicação dos recursos do Plano Marshall para a reconstrução europeia pos-1945?

  • Avatar de aaa

    Sobre o item 52.4, não é dito que a Alemanha conquistou o Cáucaso. É dito que houve uma ofensiva bem sucedida. E de fato houve, pois os nazistas tomaram alguns territórios, tanto é que a URSS faz a Operação Pequeno Saturno para recuperar o que estava sob a Wehrmacht no Cáucaso. E o ponto de virada é batalha de Stalingrado.

    • Avatar de Xadrez Verbal

      Anônimo, primeiro que ou você diz que “não é dito que a Alemanha conquistou o Cáucaso” ou você diz que “os nazistas tomaram alguns territórios”, já que tomar territórios e conquistar são sinônimos nesse contexto. Segundo, a ofensiva ao Cáucaso tinha como objetivos a conquista das regiões produtoras de petróleo, o que virtualmente não acontece, como Grozny e Baku. Além disso, sequer há ocupação do Baixo Volga

  • Diego Monteiro, de Cutitiba
    Avatar de Diego Monteiro

    Eita! A banca forçou a amizade esse ano! Ótimos comentários, Filipe. E parabéns por dar a cara a tapa disponibilizando os comentários antes da publicação do gabarito oficial. Todos os professores que ganham a vida com CACD deveriam fazer isso, mas “curiosamente” não é o que ocorre.

  • Avatar de Victor

    olá, professor,

    Obrigado pelos comentários no post e na live! 🙂 Se possível e se der tempo, gostaria de orientações de bibliografia acerca da história da Dinamarca e da ligação entre os líderes da Revolução Francesa e da Revolução Russa.

    Sobre a Dinamarca, dei uma olhada no Hobsbawn no capítulo em que está o trecho que foi usado como base no item e no História da Civilização Ocidental, mas não achei nada muito contundente. Queria algo sobre o processo que você mencionou que aconteceu dentro da legalidade, por favor.

    Sobre o item dos líderes da Revolução Francesa e a Revolução Russa, a coisa mais contundente que achei foi uma página na Wikipedia sobre o monumento a Robespierre que você mencionou. Se puder acrescentar algo sobre o tema, agradecerei.

    Obrigado pela atenção! 🙂

  • Avatar de Matteus

    Olá Filipe, segue me recurso do item 53, veja o que acha. Att.

    MUDANÇA de CERTO para ERRADO

    A discordância se dá na segunda parte do item: “[…]depois da bem-sucedida ofensiva alemã contra as regiões do Cáucaso e do baixo Volga, as tropas germânicas foram detidas em Stalingrado”.

    Consoante a Evans [1]:
    “A principal arremetida da ofensiva de verão alemã almejava garantir o Cáucaso, com seus ricos campos de petróleo.[…] Tendo dividido anteriormente o Grupo de Exército Sul em um setor norte (A) e um setor sul (B), ele [Hitler] então ordenou que o Grupo de Exército A liquidasse as forças inimigas em torno de Rostove-na-Donu e a seguir avançasse pelo Cáucaso, conquistando a costa leste do Mar Negro e penetrando na Chechênia e em Baku, no Cáspio, duas regiões ricas em petróleo. O Grupo de Exército B deveria tomar a cidade de Stalingrado e investir sobre o Cáspio via Astrakhan, na parte inferior do Volga.”(EVANS, p. 563)

    A citação acima mostra os objetivos dos alemãs na região do Cáucaso, após dificuldades em tomar Moscou. Um pouco mais a frente:
    “Indômito, o grupo de Exércitos A ocupou os campos de petróleo de Maykop, apenas para descobrir que as refinarias haviam sido sistematicamente destruídas pelos russos em retirada.”(EVANS, p. 464)

    O que leva a entender que os objetivos dessa ofensiva não foram, de todo, bem-sucedida, visto que os alemães não conseguiram controlar as refinarias dessa região. (Maikop está na região do Cáucaso).

    Em relação ao baixo Volga, o sucesso das ofensivas nessa região é no mínimo questionável, já que a própria cidade de Stalingrado em si pode ser considerada uma entrada para o baixo Volga:
    “[…]as forças alemãs em terra do Grupo de Exércitos B avançaram firme para a cidade de Stalingrado, portal para a parte inferior do rio Volga e para o Mar Cáspio”(EVANS, p. 468)

    Tal empreitada não foi bem sucedida, como corretamente aponta o item. Seguindo mais uma citação:
    “[…]Refletindo sobre essas falhas [campanha no Norte da África e Oriente Médio] em 1944, o Marechal de campo Rommel ainda acreditava que, se lhe tivessem dado ‘mais formações motorizadas’ e uma linha segura de suprimentos’, ele teria capturado o Canal de Suez, interrompendo desse modo os suprimentos britânicos, e partido para assegurar os campos petrolíferos do Oriente Médio, da Pérsia e até mesmo de Baku, no mar Cáspio. Mas não era pra ser assim.[…]”(EVANS, p. 535)

    Mostrando novamente que o suposto sucesso das operações alemãs no Cáucaso podem ser relativizadas, visto a menção a Baku. Que é reforçado pelo excerto abaixo:
    “Antes mesmo de Paulus e suas enlameadas forças terem se rendido [em Stalingrado], o Grupo de Exércitos A (a outra metade do Grupo de Exércitos do Sul) também estava entrando em apuros. No verão de 1942, o Grupo de Exércitos A tinha avançado rapidamente ao longo do Cáucaso à medida que o Exército Vermelho batia em retirada e os generais soviéticos tentavam desesperadamente organizar reforços de homens e suprimentos.[…]Em meados de setembro de 1942, apesar de seus rápidos avanços, elas ainda estavam milhares de quilômetros longe de seus objetivos, os campos petrolíferos de Grozni e Baku.[…] O Exército Vermelho finalmente se organizou o suficiente para oferecer resistência.[…]Porém, na cidade de Ordjonikide, eles depararam com uma resistência insuperável.[…]Cercados por tropas do Exército Vermelho, as forças alemãs lutaram para conseguir passar, mas a única opção era retroceder. A ofensiva não havia sido simplesmente interrompida, ela havia acabado.” (EVANS, p. 554)

    Mostrando, ainda, que as ofensivas no Cáucaso haviam sido derrotas antes mesmo do fim da batalha de Stalingrado.

    Sucintamente, é no mínimo questionável a definição de “bem-sucedida” para as ofensivas tanto no baixo Volga quanto no Cáucaso. Fazendo que o item seja ERRADO.

    [1] EVANS, Richard. Terceiro Reich em guerra: Como os nazistas conduziram a Alemanha da conquista ao desastre (1939-1945). 3. ed. São Paulo: Planeta, 2016.

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